sexta-feira, 29 de junho de 2012

CERTEZA



Sonhará o verme
Criado em sopas no estomago
Degustar verdades nas carnes do cérebro
Suculentos pedaços de contradição
Multiplicadas como fungos, frágeis, cinzas e epidêmicas.
Consciência fria, matéria liquida.
Ah! Recipiente de certeza
Lava sua alma,
Reza! Com presa, contempla, idolatra de pé;
Com fé! Crê, sente com os sentidos do teu mestre;
Obedece! Obsecado, versado sobre sua grandeza.
Ser ausente de fraqueza,
Franqueza universal, unilateral e imaculada.
Rato!
O verme frio logo subira sua garganta
Cessando o esgoto que corre em sua boca
Sufocando-te com o suco podre de suas entranhas
E mesmo a ti será estranho um porco. 
[L.B]

O homem duplicado - J. Saramago

http://www.slideshare.net/cosmohomem/saramago-jos-o-homem-duplicado

Rua crua.


Noite fria.
Sonâmbulo, com véu de garoa.
Caminhando entre velhos tortos,
Frientos, magros, calados!
Versados sobre a fome.
Jogados no canto

garotas, 
nos braços, marcas de um aranhão.
Forçado,
conjugado com ignorância, muda.
Nua como as pedras
que a fazem eco.
Grito agudo na rua
Clamor do beco.
Luz difusa na lagrima.
Espasmo!
[L.B]

NOITE


À noite!
Espaço de recomeço
de verdades do avesso certo.
Errante trato que traz apreço
e aperta o passo, aperta o abraço e oprime os olhos, vermelhos.
Apressa por força a lua,
Apressa por fome os ratos
e o pensamento, por simples solidão,
apressa ao desespero.
Estrago no tempo, disfunção da razão!
Loucura da noite.
Penumbra! Insana!
Disforma o rosto na escuridão da lembrança
Anabólico do amor.
Fé no nada.  
[L.B]

Augusto dos Anjos (poemas)

http://www.slideshare.net/cosmohomem/augusto-dos-anjos-13498377

O grande inquisitor - Dostoiewski (PDF)

http://www.slideshare.net/cosmohomem/grande-inquisidor-dostoiewski

FORTALEZA


Sensação de areia.
Grão em grão formando monólitos
Somando tons em nova coerência.
Coesão de pedra,
Jamais, dureza pura.
Inabalável fortaleza.
Das duas,
nada mais é que condição.
Grão,
sua estrutura de formação, homem!
Que o acaso apresenta aos seus atores.
Instrumento do tempo: vento,
flagela a fria superfície,
açoita permanentemente as formas,
mascando as lascas mais arredias
cuspindo aos céus os marcos da existência sólida.
Torna a pedra submissa
sujeita o corpo as cordas do seu som.
Caótico ordenado tom;
concerto da vida.
Inconsertável incerta
Resta!
L.B

INTROSPECÇÃO


Pobre ser calado
Não fechará jamais seus olhos arregalados?
Corrompera sempre o gozo com pranto
Mantendo em ti o espanto,
Do tal combate estridente,
Cujos dentes roem circularmente seu corpo
Minando contornos de sua alma
Tecendo fios de sua mortalha
Recolherá sempre seus pensamentos,
das razões e sentimentos
Até nada mais saber
Até enfim escorrer
a força toda de sua presença.
[L.B] 

INSÔNIA

Abandonado pela última fé
Ingrata insônia!
Retorna para onde teve sempre quente morada
Relembra teus dias de glória
Preenchendo horas com tudo e nada
Entre delírio e desespero
agora o nada!
Onde está febril loucura
que faz tornar poema a própria pele
e colher sangue e dor como fruto do amor
entre soluço e lágrima,
o nada!
Insônia!
Seca novamente o sulco dos meus olhos
Força-os a estar abertos.
Pra contemplar noite adentro,
existência virtuosa.
[L.B] 

(imagem inspirada no conto, INSÔNIA - narração de um sonho acordado - de Graciliano Ramos; sensação insônia: "esperarei que o relogio bata novamente e me diga que vivi mais meia hora neste horivel jato de luz")