- Voraz o
tempo se impõe, sem restrições! De um lado e de outro, todos pensando em
aconchegos. Qualquer coisa! Desde que, suficientemente deslumbrante para fazer
brilhar os rostos. Ainda que de brilho púrpura, de luzes artificiais e vozes eletrônicas.
Não para mim. Que converso em olhar com estrelas. Não me consome luz artificial.
Não reflete seu gênero em meu espírito. – repetiu tudo ali sentado, um banco
duro de praça era seu divã, quase deixando escapar aos vetos seus pensamentos. Olhando
o azul que pesava o céu, imaginava ver o oceano cair sobre sua cabeça. De súbito
pronunciou em murmúrio:
- Difícil definir o encanto!
“Sobre
as cabeças as arvores dançam.
Alegra-se
natureza, porque mesmo nos seus longos tempos,
e com
toda sua temperança,
ainda vibra
enlouquecido o amor.
Ao
entorno, outros,
sussurram
tolices.
Nada
consta aos meus sentidos,
perdido
no calor do seu corpo, estou!
Indefinidamente,
indistinto
em seus olhos”
Ao
seu lado sentava uma senhora de cabelos endurecidos. Vestida para missa de
domingo, tombou os olhos, investigadores, sobre a situação. Desde que se
tornara beata, acostumou-se com esses tipos abobalhados, sempre perdidos em
praças, resmungando palavras aos cantos. Doava pão há alguns durante os
domingos santos. Não os tocava é claro. Como poderia, ainda que sua caridade
fosse determinada, não poderia ariscar-se a comungar com a desprezível vida nas
ruas. Aquele, contudo, causara mais que a simples repugnância, não parecia um
morador de rua, com todos os atributos. Era, sem dúvida, abobalhado, mas, tinha
ainda roupas limpas e uma expressão de que esperava algo. – Será que esperava alguém,
não poderia ser! (“Ao entorno, outros, sussurram tolices”).
Grandes árvores decoram o lugar. Era
uma praça carcomida pelo andar continuo de desesperos cotidianos. Quantas
inutilidades foram ali depositadas. Quantos pensamentos elevados já tremeram em
suas pedras úmidas. Dois metros acima, tudo era ignorado pelas copas das belas
arvores, que dançavam ensaiadas, ao som de um vento primaveril. A natureza, mesmo
zombando as frivolidades da condição humana, parecia ainda contemplar a
situação anunciada. Nos macroscópicos tempos naturais ainda existe apreço aos
suspiros do amor. (“Alegra-se natureza, porque mesmo nos seus longos tempos e com
toda sua temperança, ainda vibra enlouquecido o amor”).
Os
ventos de súbito cessaram. A mulher ao lado enojou-se vendo caminhar em direção
aquele ser tolo uma menina de olhos brilhantes e cabelos nos olhos. – conhecia bem
aqueles tipos juvenis. Conhecera vários deles em sua infância. Um bando de
desmiolados, impraticáveis no mundo. Aos dois nada mais importava. Alias, mal
deram conta dos inquisidores. Seus olhares se cruzaram. E um sorriso de lua
minguante abriu-se em seus rostos (Nada consta aos meus sentidos, perdido no
calor do seu corpo, estou! Indefinidamente, indistinto em seus olhos”).
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