domingo, 7 de abril de 2013

MAGNITUDES



 - Voraz o tempo se impõe, sem restrições! De um lado e de outro, todos pensando em aconchegos. Qualquer coisa! Desde que, suficientemente deslumbrante para fazer brilhar os rostos. Ainda que de brilho púrpura, de luzes artificiais e vozes eletrônicas. Não para mim. Que converso em olhar com estrelas. Não me consome luz artificial. Não reflete seu gênero em meu espírito. – repetiu tudo ali sentado, um banco duro de praça era seu divã, quase deixando escapar aos vetos seus pensamentos. Olhando o azul que pesava o céu, imaginava ver o oceano cair sobre sua cabeça. De súbito pronunciou em murmúrio:      
- Difícil definir o encanto!
“Sobre as cabeças as arvores dançam.
Alegra-se natureza, porque mesmo nos seus longos tempos,
e com toda sua temperança,
ainda vibra enlouquecido o amor.
Ao entorno, outros,
sussurram tolices.
Nada consta aos meus sentidos,
perdido no calor do seu corpo, estou!
Indefinidamente,
indistinto em seus olhos”

         Ao seu lado sentava uma senhora de cabelos endurecidos. Vestida para missa de domingo, tombou os olhos, investigadores, sobre a situação. Desde que se tornara beata, acostumou-se com esses tipos abobalhados, sempre perdidos em praças, resmungando palavras aos cantos. Doava pão há alguns durante os domingos santos. Não os tocava é claro. Como poderia, ainda que sua caridade fosse determinada, não poderia ariscar-se a comungar com a desprezível vida nas ruas. Aquele, contudo, causara mais que a simples repugnância, não parecia um morador de rua, com todos os atributos. Era, sem dúvida, abobalhado, mas, tinha ainda roupas limpas e uma expressão de que esperava algo. – Será que esperava alguém, não poderia ser! (“Ao entorno, outros, sussurram tolices”).
         Grandes árvores decoram o lugar. Era uma praça carcomida pelo andar continuo de desesperos cotidianos. Quantas inutilidades foram ali depositadas. Quantos pensamentos elevados já tremeram em suas pedras úmidas. Dois metros acima, tudo era ignorado pelas copas das belas arvores, que dançavam ensaiadas, ao som de um vento primaveril. A natureza, mesmo zombando as frivolidades da condição humana, parecia ainda contemplar a situação anunciada. Nos macroscópicos tempos naturais ainda existe apreço aos suspiros do amor. (“Alegra-se natureza, porque mesmo nos seus longos tempos e com toda sua temperança, ainda vibra enlouquecido o amor”).
        
Os ventos de súbito cessaram. A mulher ao lado enojou-se vendo caminhar em direção aquele ser tolo uma menina de olhos brilhantes e cabelos nos olhos. – conhecia bem aqueles tipos juvenis. Conhecera vários deles em sua infância. Um bando de desmiolados, impraticáveis no mundo. Aos dois nada mais importava. Alias, mal deram conta dos inquisidores. Seus olhares se cruzaram. E um sorriso de lua minguante abriu-se em seus rostos (Nada consta aos meus sentidos, perdido no calor do seu corpo, estou! Indefinidamente, indistinto em seus olhos”).

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