Ainda que
de muito venhamos, a saber, nada saberemos realmente. Ao menos não desse saber
esquadrinho. Sempre haverá no oceano aquele fundo oculto de um abismo, onde a
vida pulsa diferente e existe por resistência uma luz. Os organismos criam luz
própria, e por assim ser, seus olhos se fazem grandes. A pergunta certa a se
fazer então, não é sobre as extensões a desvendar. Antes, é qual tamanho dos nossos
olhos. Quem diria vir à mente todas essas perguntas por um simples gesto de
observar um aquário. Quadro pequeno de vidro, peixes. Monótono e repetitivo aos
que transitam apressados. Ao mesmo tempo, esclarecedor e verdadeiro, para os
que param de olhos grandes. Quem diria também, que o açúcar, contra indicado a
um velho, viria a formar energia para alimentar tal deslumbre de pensamento. E
quando a mente vaga, quando os peixes movem-se contra as correntes internas
daquela caixa, precipita o coração, tremulam as mãos e correm os pés a
sentar-se, na varanda, sob o céu azul. A cadeira de balanço pende, volta, como
as ondas no lençol d’água, como as pálpebras que descortinam os olhos, como o
pulso que rega o corpo e tudo isso resume uma memória, um acalento, que faz do
amor (de amar) uma quietude sabia de velho.
Ha, mais
aos que ali passam de canto dobrando a vista sobre a situação, concluem não
passar tudo de uma rotina maçante. Todos os dias, sempre as mesmas horas,
mantém aquele velho a face vidrada no horizonte. - Qual horizonte, dizem, se
não caminha a lugar algum, esta sempre a balançar-se para lá e para cá,
repetitivamente, todas as tardes. Mal sabem os senhores em seus afazeres – pois
seria à suas gravatas, ainda mais impressionante – que aquelas rugas também se
sentam ali, na mesma posição, durante as manhas e as noites. E que seu dia é a infinitude
da linha azul do céu, onde pousa a paz e a esperança das nuvens. E das
impressões, do velho sobre os peixes e dos caminhantes sobre o velho, e vice e
versa para os três, deduz-se que a todos, sempre há outros a criar aquários,
sempre há aqueles que não podem ver o esforço da vida, e não respiram mais que
para ter fôlego.
Pela curiosidade de quem vê onipresente o caso, terá que se perguntar.
Acho que por ser eu mesmo, vestido de velho a balançar-me em uma cadeira, de
olhos fixos a áurea celeste a procurar as linhas que firmam a magnitude e as
estrelas, e se descubro, corro a colher um pedaço para unir-me a uma também,
uma de nome definido e brilho inconfundível. Perguntar-se sobre amor ou amar,
és um sujeito – amor – em nós ou uma fúria de movimento – amar. A resposta
ainda parece impossível, porque tenho amor como uma ideia, energia luz que me
aquieta, e tenho-o também como amar, um frenesi nos pés para encontra-la.
Encontra-me aqui, onde sempre estive, à sua procura, olhos no horizonte também, pois é de lá que você vem, quando longe, esperança, e quando perto, a personificação desse sujeito, amor. E o amar é a dança que fazemos juntos, sabendo fazê-la só em dois, de nomes e cheiros certos
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