sábado, 30 de março de 2013

SANTUÁRIO




A atmosfera reza a madrugada,
Ladainha metálica.
O denso silêncio,
Pesa sobre os papeis riscados.
Sobe a temporã à luz dourada,
Incita a procissão de pensamentos.
Inscreve na memória, a pura
inspiração.  

Lá fora,
Solitária, a lua seleta admiradores.
Doa-se sem condições aos desgarados.
E reflete as belas almas,
Em calidoscópio, mil cores, girando, deslumbrando os que vivem.
Não para mim, que das cores da vida sou cego.
Não que seja ego,
De mim só sei das lentes,
Condição da minha vertente,
Composição da minha fé,
De indizível cor única, vejo.

És a vela quente que roga, incansavelmente. Derramando-se,
quente. envolvente
cera branca.

De única cor, alimento.
Essa, decorrada, de/coração, ás vezes descorada.
Nunca, porém apagada, plastificada.
Ecoa o som do tigre sonho humano,
Tão triste (sou) por não ter boa tinta a pintar-lhe o mundo
Da beleza azul dos céus,
Do escuro mar, solicito.
Para onde sem medida corre
Em puro ser.

De cor única, respiro.
A paz do inconstante perpetuo,
Pétreos olhos fundos.
Ofereço-lhe meu castelo
De sol da manha
De minguante lua chorosa.
[L.B]

sexta-feira, 22 de março de 2013

LÚGUNBRE







Lutou contra a corrente!
O que deixaste?!

Além de rastros de poeira

Nojento ser, considerava-se grande
Quando enfim se descobriu pigmeu
Tomou uma dose
Coragem ou covardia?



O cosmo o repeliu

Nem mesmo às chamas do inferno serviria
Um verme tão repugnante
Não teria lugar nem mesmo em buracos negros
Seus tons eram de preto inimaginável
Era pobre de Espírito, sem alma!



Consumiu-se pelo desgastante curso

Nunca apagado
"A praga Universal pairava sobre tudo!" 
Sobrou-te sofrimento eterno
Oh, verme ignóbil
Fujas de sua nojenta existência!
Tome sua dose de 
Coragem e Covardia!

(de: C. V. B)


terça-feira, 19 de março de 2013

ESTA(N)DO MAR




Soam. Cálidas trombetas.
Tocando ao horizonte, navios de madeira molhada
Tomba, afoga-se o tombadilho. Oh! Mar em fúria
Cedo, ruindo os pormenores,
doados ao imenso azul.
Céu e mar.
Cedo. Ainda está?
Não governas aqui, tempo,
São febris tempestades, titãs do espírito,
intratáveis ao seu consolo.

- Os espíritos não se dobram
E não vestem roupas perenes -  

Cedo. Admirado.
Inebriante horizonte!
Pôr e poente:
olhos de estrela. Poética frieza,
(dos cobertores velhos)
Rubra face luz. Reluz cadencias
(das águas mornas)

Tudo nasce e morre em ciclo
Cada morte é um sorriso,
cada choro uma gestação.
Tudo vive em mim
Onde caibam, no peio
mar revolto.
Dançam cantos. Em outros cantos
de memória.

Velamos a veleidade.
Porque é sempre cedo (ou tarde!?).  
Param as águas, paira o olhar,
exala cheiro de chuva
e o mar esconde sua devoção,
na imensidão das sombras.       
[L.B]


       

segunda-feira, 18 de março de 2013

A MISÉRIA EM LUZ




Escureceu.
O menino esquecido
A lágrima derramada
A face de um mundo
Afundado em mediocridade
Cansou da dor

Escureceu.

O pessimismo que domina

A carne miserável

O sangue derramado

Sem sentido...
Brilhou uma estrela qualquer

No fundo da escuridão

Infinita

O intelecto salva

A racionalidade pulsa

Sentimentos anormalizados
Escureceu..

[C. V. B]




VERSOS SIMPLES




Escapa aos poucos.
Nuvem,
dobra-se no ar
até perder a forma.
Mal a reconheço
Mas, bendigo sua luz
prova da força do tempo.
Esvaindo aos lamentos,
lavando com silêncio
o céu negro.
Na sua poeira,
no seu rastro,
cresce melancolia,
Sua deixa não parece morte,
é mais uma dança de astros.
Logo vejo
na brisa seu caminho,
lhe encontro logo
em nova tempestade.

L. B

sexta-feira, 1 de março de 2013

[C. V. B]


        Já passaram das quatro da manhã e a mente da pequena mulher continuava vagando, caminhando por esquinas e estradas pelas quais nunca passara. Então aquele estranho arrepio subiu-lhe a nuca. Ah, como aquele pobre coração almejava sentir algo, como gostaria de descobrir a veracidade de um amor de contos antigos. Era claro que a culpa era indispensavelmente dela, afinal, nunca se deixara aproximar-se o bastante das pessoas pra se apaixonar. Morria de medo de sentir as mãos suadas e o pulsar forte do coração.

      Ela apenas deixava seus devaneios a levarem para longe, idealizando amores que nunca seriam reais. Estúpida! Por que nascera nesta carne humana tão fraca, tão idealizadora. Ela se perguntava por que amar era considerado tão importante assim?! Por que uma necessidade tão esperada por toda a vida. Diziam a ela que mata a sede da alma, que reaviva a humanidade presente no espírito. Mas para ela era difícil de acreditar sem nunca ter experimentado, pois acreditava que a vida seria digna sem um homem ao seu lado, pois apenas usaria a razão, a lógica, não precisaria acreditar em juras de amor e sentimentos apaixonados.
     Ignorante mente jovem, desconhecia as almas que um dia chegariam a dela. Sempre vagarosa, sua cabeça voltava ao lugar, ao quarto escuro, cercado de sombras imaginárias e sonhos jogados ao vento, misturando-se ao aroma de perfumes baratos, dessa forma, a pequena mulher adormeceu, consciente de quê a próxima noite estava à espreita, esperando para pregar-lhe mais peças.