segunda-feira, 25 de novembro de 2013

TEMPESTADE


Jatos, naves, motores. Tudo aos pés cansados, envoltos de malemolência. Os caminhos do homem perderam destino! As máquinas o carregam! Infortunamente, é maior o desgaste, ser levado à lugares detestáveis, de aço maciço. Grandes barras, grossas, cinzas. Telas, chips, configurações. Estão montadas as peças metálicas de barulho escandalosamente sintético. Saltam imagens repetidas, perpetuadas na retina fadada ao cansaço, tanto que tomam cores artificiais, os olhos vidrados, vitrálicos. A armadura formada, firmada, está mantida em máquina, o vulnerável espírito e corpo humano.
Repentinamente, vieram as torres, são altos emaranhados de ferro, com pontas finas para espetar nuvens e fazer chover, isso acontece se por um acaso cruza o céu um cometa tempestuoso. Donde caem raios revoltosos, prontos a atacar o aço e metal, em toques extremos! Ouve-se sinos, gritantes, e logo começar a se debater a velha mente juvenil, e a atordoada melancolia é sobrepujada às engrenagens antigas, e estas convertem-se em veias e sangue. É cruel o imposto esforço maquinário, estourando os tecidos naturais, apertando entranhas que intensificam vontade de expansão. Enquanto os raios caem, ocorre um lapso mental, os olhos viram e reviram, resistentes, deixando cair os parafusos enferrujados, expulsando-os. As íris tomam forma e cor, prateadas, esbanjam as energias celestes e mostram fúria calída como chuva morna, e as escorridas lágrimas multidimensionais corroem o aço histérico. Há força e chamas nos pedaços de tecido da placenta enevoada e acordada pela batida em tom de nota sol, em solo metálico. Movem-se as curvas não robóticas no corpo estremecido, os olhos se voltam ao céu e as nuvens cor de lua estão sendo fadadas, dão lugar à uma fumaça tóxica. O ser fragilizado, renovado, se debate em seus azuis, desesperado, ferindo-se, as porcas e parafusos injetados agem como ácido na pele fina. Não é mais máquina?

As tempestades não se eternizam, mesmo sob a força dos deuses celestes, os raios se esvaem, e desejo de olhar o horizonte espanta-se. Está detido às telas novamente. Espera-se, porque está sempre a esperar um escrúpulo, o tempo, em que em alguma dimensão nos buracos negros possam envolvê-lo com as chuvas. As máquinas não sabem sentir, sabem-no repetir. Repetir a mesma matéria morta dos motores, destino fulminante de existência escravizada.
[C.V]

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